terça-feira, 2 de outubro de 2012

Retalhos

Autor e artista: Craig Thompson

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Yo! How's it going?

Como não podia deixar de ser, volto às origens do blog Streampunk no assunto de hoje: a Graphic Novel "Retalhos", escrita e desenhada pelo norte-americano Craig Thompson, que em 2004 venceu tanto os prêmios Harvey quanto Eisner de Histórias em Quadrinhos em diversas categorias, incluindo melhor álbum, roteirista e artista. Agradeço a Juliana e Alex por terem me emprestado esse incrível encadernado e propiciado uma leitura tão divertida. 

Plano de fundo: Craig Thompson é certamente um garoto confuso: criado por pais cristãos fervorosos em uma cidadezinha de Wisconsin, sua realidade é pontuada por dilemas e pensamentos que flertam entre a supressão e reflexão conforme o garoto amadurece e começa a entender melhor o mundo que o cerca. Isso traz grandes consequências a ele, é claro. Afinal de contas, lá fora há tentação, desejo e pecados. Mas lá fora também há amor.

Tendo como o centro de sua vida seu primeiro e mais puro contato com a paixão, Craig nos narra de forma sensível e quase poética as reviravoltas que marcam seu amplo crescimento, levando-nos a uma reflexão tanto religiosa quanto pessoal que é tão ingenuamente bonita quanto sinceramente dolorosa.

Papum: Abrir uma coletânea tão premiada como "Retalhos" é certamente arriscado devido a incríveis expectativas que inevitavelmente acabam sendo geradas. Ao encerrar o ciclo de leitura da obra, no entanto, a sensação latente abrange mais do que satisfação: sim, Craig Thompson é merecedor de seu sucesso, e sua obra quase auto-biográfica é realmente estonteante.

Com sua arte cartunesca em preto e branco e grande criatividade em extrema harmonia, Thompson realiza um trabalho impressionante cuja vivacidade só é vencida pela engenhosidade de seus quadros e clareza de seus contornos. Misturados de modo incrivelmente artístico, os dilemas de sua personagem (ou melhor, dele mesmo) ganham um olhar emotivo e altamente simbólico entre diálogos afiados e projeções fantasiosas, realizados a partir de transições de quadros verdadeiramente invejáveis a qualquer aspirante a quadrinista como eu. Seu preenchimento de espaço e ângulos narrativos também promovem um dinamismo constante, renovando o ar de seu enredo com frequência para oferecer ao leitor um verdadeiro banquete visual.

Aliado a isso, então, as indagações de Craig e o caminho que abre sua mente são igualmente significativos. Desde pequeno, o menino receia que seus atos ruins recebam uma punição divina algum dia, e qualquer forma de pecado que ele comete é tido por seus pais como um profundo desapontamento. Tal conflito acaba por posicionar Craig entre dois mundos: aquele construído por seus pais, e aquele além das portas de sua comunidade religiosa. A transição entre eles é lenta e gradual, e exige que Craig vivencie uma série de eventos para que as doutrinas tão rigorosas que lhe foram passadas comecem a ceder, como realmente acontece. A responsável por isso é a garota Raina, quem ele conhece em um acampamento religioso. A por vezes confusa relação entre os dois, apesar de jovial e até certo ponto ingênua, leva Craig a questionar a autenticidade de tudo aquilo que lhe foi dito, e Thompson é corajoso em seus quadros de cunho um pouco mais religioso: afinal, como pode Craig tomar como a verdade de Deus livros como a Bíblia, altamente interpretativos e constantemente alterados pelo homem com o passar das décadas? A semente do questionamento está aí, e muito do que o garoto tratava como pecado agora é sua fonte de alegria e calor. Nessa linha, então, como pode seu desejo e amor serem um pecado?


Em uma nota final, vale também destacar os flashes temporais que Thompson usa para construir sua narrativa. Alternando entre a infância e adolescência de Craig para ilustrar sua mudança de mentalidade, podemos conhecer a fundo a rígida relação com seus pais e a forte relação dele com seu irmão Phil, cujos conflitos variam de abusos infantis a inocentes viagens pelo mundo da imaginação das duas crianças. Sendo uma obra tão completa em tantos níveis diferentes, não é de se espantar que "Retalhos" tenha chegado onde chegou, e agora aguardo ansiosamente por ler mais trabalhos de Craig Thompson.

'Nuff said. Sigam o blog e continuem a acompanhá-lo. Há muito coisa bacana por vir este mês, então fiquem ligados!




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In a nutshell:

- Retalhos -
Thumbs Up: arte e escrita de Craig Thompson; transição criativa entre cenas e quadros; inventividade na abordagem de seu simbolismo; preenchimento e angulação de suas sequências; traços claros e fortes;
Thumbs Down: -----

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