quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

The Ill-Made Knight

Autor: T.H. White
Ano de publicação: 1940

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Yo! How's it going?

Depois de um certo tempo de ausência de postagens literárias aqui em Streampunk, retorno hoje com o terceiro livro da série "The Once and Future King", intitulado "The Ill-Made Knight". Quem não conhece o fabuloso trabalho de T.H. White nessa grande reinvenção das crônicas do Rei Arthur pode acessar meus textos sobre os dois primeiros livros da coleção, "The Sword in the Stone" e "The Witch in the Wood", para se inteirar mais sobre esse que é considerado um dos maiores trabalhos do gênero da fantasia já escritos.

Plano de fundo: Com a política do Rei Arthur de que força e justiça devem caminhar lado a lado e a existência da Távola Redonda estabelecida, o reino de Camelot prospera, assim como o restante da ilha britânica. Cruzando o mar, no entanto, o jovem Lancelot Dulac espera ansiosamente o dia em que poderá servir o grande rei, posição pelo qual treinara por toda a sua vida.

Uma vez em Camelot, o que contempla o jovem rapaz não é só amor por seu justo e incrível rei, mas sim pela rainha Guenever. O triângulo amoroso, contudo, está fadado a ter consequências que um dia hão de ironicamente clamar resultados terríveis das pessoas que Lancelot mais ama.

Papum: Com brilhantismo ímpar, mais uma vez T.H. White impressiona em sua reinvenção da mitologia arthuriana ao tratar dois dos mais importantes assuntos em todo o seu escopo: a traição de Lancelot e Guinever (aqui escrita Guenever) e a busca sagrada de Arthur e seus cavaleiros pelo Santo Graal. O resultado é mais uma vez tão profundo quanto divertido, construindo em seu desenrolar a teia de eventos que inevitavelmente leva Arthur à sua perdição.

Abrindo o livro com descrições da vida de Galahad Dulac (Lancelot) no castelo de Benwick, T.H. White nos apresenta a personagem como sendo um garoto feio e complexo, diferentemente da maioria das visões de Lancelot por grande parte de outros autores. Devoto à Deus e aos ideais de Arthur acima de tudo, Lancelot vive uma juventude de privações que tem como intuito transformá-lo no maior cavaleiro da Távola Redonda, mas que acaba por alimentar demônios internos que o garoto tenta suprimir a todo custo. Sua feiura e mente problemática o levam a se autointitular Le Chevalier Mal Fet (ou Cavaleiro Imperfeito), uma figura que merece ser vista com pena pelos outros até que consiga alcançar suas ambições. É com a visita de Merlyn à Benwick, então, que Lancelot é convidado à Camelot e prontamente nomeado Sir Lancelot, iniciando aí sua trajetória de glórias e desgraças intrinsecamente ligadas com a ascensão e queda de Camelot.

Em primeira estância, White constrói a relação entre Lancelot e Guenever baseada em ódio: Lancelot ama Arthur e rejeita sua jovem rainha, até pelo menos conhecê-la de verdade e se apaixonar perdidamente. Suprimindo seu sentimento, o cavaleiro parte em missões do reino que o levam até Elaine, criando aí o primeiro de uma série de obstáculos em seu caminho que contribuem para sua destruição mental até o ponto de ruptura. Não só Lancelot passa a noite com Elaine (traindo assim seu voto de celibato), como ao voltar à Camelot acaba por se relacionar com Guenever, sua maior paixão. Fraqueza e medo, porém, impedem o jovem de fugir com a rainha, tornando sua estada na corte fonte de muitas fofocas e especulações. White não se utiliza mais de anacronismo aqui, mas continua a fazer fortes referências ao trabalho de Sir Thomas Malory e dá uma camada de complexidade inteiramente nova a Lancelot e Guenever fazendo do cavaleiro uma figura contraditória imersa em conflitos pessoais e da rainha uma mulher impetuosa no ápice de sua juventude, causada aqui pelo que White descreve como falta do sétimo sentido: o entendimento do mundo, algo que adquirimos somente com o tempo. Entre as idas e vindas de Lancelot e acessos de fúria da rainha, a teia de eventos que levam o filho de Lancelot e Elaine à Camelot e os conflitos que o reino encontra fazem com que Arthur se dê conta que não é mais uma busca física que é necessária por sua corte, mas sim espiritual. Tendo tornado seu reino justo, justiça pessoal começa a imperar com a falta de entendimento do etéreo, fazendo o rei convocar seus cavaleiros para a busca do cálice guardado por José de Arimateia com o sangue de Jesus Cristo, o Santo Graal.

Narrando os eventos da missão sob certo distanciamento, White utiliza-se de Sir Lionel, Sir Gawain e Sir Lancelot para descrever como Galahad (filho de Lancelot), Percival e Bors são os únicos a alcançar o Santo Graal, levando Lancelot a crer que seu fracasso é uma punição divina por seus crimes, uma visão de fato interessante. Entre novas promessas de celibato, White relaciona a força de Lancelot com um interessante paradoxo: enquanto pecador, ninguém pode derrotá-lo. Reformado, o cavaleiro é desmontado inúmeras vezes, mesmo que sua devoção por Deus ainda o leve a rejeitar a rainha constantemente agora, depois de tantos anos de caso amoroso. Tais conflitos caminham por cenários comuns das lendas arthurianas (como a maçã envenenada e o sequestro de Guenever) e acabam por eventualmente consolidar a relação de Lancelot e Guenever em definitivo, abrindo o caminho que White deseja para começar a abordar a queda de Arthur em seu quarto livro, "The Candle in the Wind". Tudo isso é anunciado inclusive com a chegada do filho bastardo de Arthur, Mordred, abrindo planos promissores para o desenrolar da saga, que faço questão de abordar aqui posteriormente. Por esses motivos, "The Ill-Made Knight" mantém a coleção em um nível altismo de valor histórico e simbólico, fazendo dela uma peça muito importante a qualquer fã de fantasia que gosta de conteúdo.

Agora 'nuff said. Continuem a acompanhar o blog e até a próxima!

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In a nutshell:

- The Ill-Made Knight -
Thumbs Up: construção de Lancelot e Guenever complexa e perfeita; motivação da busca pelo Santo Graal reinventada de modo sólido; descrição efetiva do senso de cavaleria da corte; olhar singular dos mais marcantes acontecimentos de Camelot; referências à Sir Thomas Malory intercaladas com criatividade e olhar pessoal do próprio autor;
Thumbs Down: -----

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