Autor: Joe Hill
Artista: Gabriel Rodriguez
Yo! How’s it going?
Hora de falar sobre mais um ótimo
título em quadrinhos em andamento nos Estados Unidos: a série de suspense e
terror chamada “Locke & Key”.
Como começo a falar dela em seu
terceiro volume encadernado, gostaria de situar meus leitores quanto a
elementos essenciais da trama: “Locke & Key” narra a história da família
Locke, composta por Nina e seus filhos Tyler (primogênito), Kensie (filha do
meio) e Bode (caçula). Após a morte de Rendell (marido de Nina e pai das
crianças) pelas mãos de um assassino psicopata chamado Sam Lesser, os Locke
optam por retornar à cidade natal de Rendell, Lovecraft, para poder fugir da
dor e recomeçar a vida. O problema é que a mansão Locke esconde segredos
incríveis por todos os seus cantos, e as chaves para desvendá-los talvez façam
muito mais do que simplesmente abrir portas. Além disso, um mal terrível se
esconde nos domínios da mansão, e liberá-lo pode significar muito mais dor aos
Locke do que eles jamais imaginaram. On
to “Crown of Shadows”, then!
Plano de fundo: A vida dos Locke continua de pernas para o ar. Como
se não bastasse todo o esforço para aceitar e trabalhar com a série de eventos
absurdos que tem acontecido, Tyler, Kensie e Bode ainda tem de lidar com a
loucura de sua mãe Nina, que mergulha cada vez mais no mundo das bebidas como refúgio
contra a realidade. Paralelamente, o misterioso “amigo” de Tyler, Zack,
continua a procurar pelas poderosas chaves da mansão dos Locke – afinal de
contas, tais chaves são capazes de realizar feitos incríveis como transportar
uma pessoa a qualquer lugar do mundo, separar espírito e corpo, abrir a mente
ou até realizar uma troca de sexos. O que Zack busca em especial, no entanto, é
a chave ômega, a mais importante chave da mansão.
Guiado por grandes ambições e até
mesmo um senso de insanidade, Zack utiliza uma de suas chaves para poder
controlar a coroa que dá ao seu usuário poder sobre o mundo das sombras. Ao seu
comando, as criaturas sombrias agora buscam a chave ômega a todo custo, o que
pode significar para os Locke um confronto de vida ou morte entre as criaturas
e eles próprios. Afinal, eles ainda habitam a mansão, quer Zack queira ou não.
Papum: Desde o início, “Locke
& Key” foi realmente um achado
para mim. Resolvi apostar na série após o lançamento de seu primeiro
encadernado sabendo quase nada sobre ela, e fui fisgado pelo ótimo trabalho de
Joe Hill (filho do escritor Stephen King) e Gabriel Rodriguez de uma vez – trabalho esse que levou os dois a
indicações ao prêmio Eisner de quadrinhos posteriormente.
Sombrio e potente, fantasioso e
palpável, “Locke & Key” é uma ótima mistura de terror e suspense
sobrenatural que funciona muito bem através de seu sólido enredo, belíssima
arte e personagens consistentes - apesar da loucura que os ronda, os Locke também
têm problemas de relacionamento, conflitos pessoais e objetivos próprios, uma
humanização que traz os leitores muito próximo à família e adiciona muito mais
importância às tramas narradas.
Em “Crown of Shadows”, mais
algumas chaves da mansão Locke são apresentadas, e a criatividade de Hill
brilha novamente. Quem não gostaria de ter uma chave capaz de abrir nossa mente
para que pudéssemos inserir ou remover dela o que quiséssemos? E quanto a ir à
qualquer lugar no mundo? Que tal controlar as sombras? Sim, controlar as
sombras: esse é um elemento que qualquer vilão que se preze deve abordar, o que
Hill sabe muito bem. Sombra e luz se enfrentam em uma batalha feroz em “Crown
of Shadows”, seja ela física ou metafórica. Afinal, os Locke até agora tiveram
mais do que sua cota de sombras em suas vidas, mas nem isso foi capaz de apagar
os laços que os unem e os fazem proteger um ao outro.
A arte de Rodriguez merece muito
destaque, também. Não é sempre que um desenhista consegue prender a atenção do
leitor ao mostrar sequências de quadros “mudos” que tomam uma página inteira, e
a batalha que sucede no terreno dos Locke é grandiosa demais para ser narrada
em quadros tradicionais; há o senso apropriado de uma cena épica aqui muito bem
trabalhada por Hill e Rodriguez, em plena sintonia desde o início da série
“Locke & Key”.
Outro destaque está nos planos de conflito entre sombra e luz, onde o uso de uma lanterna por parte da personagem Kensey provém ao leitor ótimas sequências e planos de contraste que são de tirar o fôlego. Hill sente que o momento deve ser visual, não interferindo no trabalho de Rodriguez com falas desncessárias. O autor, no entanto, não se apoia somente no lado gráfico da obra, inserindo-se de volta ao enredo com um timing impressionante, o que me faz olhar para o trabalho de Mark Millar em “Kick-Ass 2” com ainda mais desgosto.
Referências legais à literatura
também podem ser vistas aqui e acolá. Na estante dos Locke, por exemplo,
podemos observar alguns clássicos que simplesmente precisam ser lidos, como “Ubik”
de Phillip K. Dick, “20.000 Léguas Submarinas” de Júlio Verne ou “Moby Dick”,
de Herman Melville. A homenagem singela a tais livros é sutil e interessante, mesmo
que Hill ou Rodriguez tenha, por exemplo, errado o nome do livro “At the
Mountains of Madness”, de H.P. Lovecraft, chamando-o de “In the Mountains of Madness”. Somado a tudo isso também temos a sombra de Peter Pan e todo um exército de criaturas do mundo da fantasia atrás dos Locke.
Por fim, o volume ganha um
sentido ainda mais amplo de drama ao narrar a descida de Nina ao fundo do poço
– evento esse que leva as personagens a uma descoberta incrível. A ponta solta
deixada por Hill em “Crown of Shadows” é de fazer vibrar, deixando qualquer
leitor ansioso pelo novo volume da série.
‘Nuff said, now. Se você é amante de quadrinhos, ler “Locke &
Key” é mais do que diversão garantida. A popularidade da série é grande
inclusive entre outros autores de quadrinhos, o que fez o título chegar muito
perto de virar uma série de TV (série essa que, se baseada ns quadrinhos, eu
assistiria com certeza). Deixo vocês, então, com o link para o teaser do piloto
da série que acabou não vingando, e espero que esse aperitivo visual os
interesse a conhecer a história dos Locke.
In a nutshell:
- Locke & Key Vol. 3 – Crown of Shadows –
Thumbs Up: roteirista e artista em perfeita sintonia; quadros
largos de proporções épicas que vivem todo o seu potencial narrativo; luz e
sombras em um conflito sólido e interessante; drama pessoal que nos mantém
próximos às personagens; arte linda de Rodriguez;
Thumbs Down: talvez a subtrama que abre o encadernado, já que ela
não parece ter consequência alguma para a série e se isola do restante do
enredo;
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