domingo, 22 de julho de 2012

A Crack in the Line


Autor: Michael Lawrence
Ano de publicação: 2003

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Yo! How’s it going?

Foi realmente um golpe de sorte descobrir o primeiro volume da trilogia de livros infanto-juvenis Withern Rise/Aldous Lexicon, escrita pelo autor inglês Michael Lawrence. 

Contando com uma baixa tiragem no exterior e quase nenhum interesse da mídia em divulgá-la, "A Crack in the Line" chegou ao meu alcance quando procurava alguma nova saga infanto-juvenil para ler, mas uma saga que não fosse incendiada por modismo ou que faltasse criatividade, como a maioria em amostra em qualquer livraria por aqui. O resultado foi satisfatório, e venho aqui escrever sobre essa incomum experiência literária para nós brasileiros. 

Plano de fundo: Alaric e Naia Underwood são dois adolescentes de 17 anos que têm muito em comum: toda uma vida, para ser perfeitamente preciso. 

Habitando duas realidades paralelas, os dois são a mesma pessoa, o unigênito de Ivan e Alex Underwood. O que os difere, porém, é um momento no tempo, uma rachadura na linha, como o título do livro sugere: enquanto Alaric perdeu sua mãe em um trágico acidente de trem há dois anos, a mãe de Naia sobreviveu ao mesmo acidente e ainda vive com sua família. Mas é claro que um não sabe da existência do outro. Ou melhor, não até agora.

Segurando a perfeita miniatura feita por Alex Underwood de Withern Rise (a grande casa colonial de Alaric e sua família), o garoto é tomado por um incrível sentimento de perda e saudades de sua mãe; um sentimento capaz de romper dimensões e levá-lo a uma realidade onde Alex Underwood sobrevivera ao acidente e ainda vive. O problema é um só: essa Alex já tem um filho. Ou melhor, uma filha, e ela se chama Naia Underwood.

Surpresos por descobrir a existência um do outro, Naia e Alaric lutam para entender e assimilar a situação extraordinária da qual fazem parte, logo criando diversas teorias e paralelos sobre o que vivenciaram, as realidade de onde vêm ou o momento no tempo responsável pela divisão daquelas duas realidades. Isto é, se realmente só existem duas realidades no final das contas. E se eles são os únicos que conseguem viajar de uma a outra, será que há um preço exigido por tamanho dom?

Papum: "A Crack in the Line" é sem dúvida uma leitura curiosa, rápida e tocante. Dirigido por uma escrita emocional que preza o amadurecimento de suas personagens ao invés de ação desenfreada, o romance alterna constantemente entre os pontos de vista de seus protagonistas Alaric e Naia em suas versões de Withern Rise, abordando frequentemente um debate semi-quântico de linhas temporais simultâneas geradas a partir de escolhas, acontecimentos ou, neste caso em específico, tragédias.

O sentimento de perda de Alaric é intenso durante todo o livro, o que o torna uma personagem taciturna e sofrível se comparada com a disposta e sociável Naia, resultando em um bom balanceamento de emoções. Afinal de contas, Alaric perdeu sua mãe, enquanto Naia ainda a tem, o que certamente deveria diferir o comportamento das duas personagens, como de fato faz. No entanto, é nas ramificações da realidade que o livro realmente brilha e se sobressai perante a mesmice e até mediocridade que tem tomado conta do gênero infanto-juvenil desde o término da saga de Harry Potter (salvo algumas exceções, é claro). A falta de um clímax melhor trabalhado, porém, impede “A Crack in the Line” de realmente estourar: enquanto sua história se desenrola, o romance simplesmente... termina. Se por um lado Michale Lawrence quis restringir sua pseudo-ficção científica a um lar e uma família, o escopo de sua premissa é grande demais para parar ali, o que é certamente capaz de frustar alguns leitores.

Como interessante plano de fundo para “A Crack in the Line” temos ainda a ótima descrição da mansão Withern Rise, um dos pontos mais altos do livro; a casa é justamente onde cresceu o autor do romance, o que indubitavelmente o possibilitou de carregar suas descrições com leveza e carinho mais do que sinceros e sentidos pelo leitor.

No geral, então, “A Crack in the Line” é uma leitura sugerida a todos aqueles que gostam do gênero e tentam fugir da obviedade. Infelizmente, contudo, o livro não foi e tampouco deve ser traduzido para o português, obrigando os interessados a correrem atrás de uma versão importada da obra. Do mais, apesar de ser injusto de minha parte colocar isto, posso dizer que Michael Lawrence contribuiu bastante em minha vida literária não só com seu livro, mas com um curioso fato escrito nas considerações finais de seu romance: a de que um de seus livros favoritos é “A Fundação”, do renomado Isaac Asimov.

Não quero me estender nesse assunto porque esta postagem aborda outro tema, mas sou eternamente grato a Michael Lawrence por me incentivar a ler o primeiro volume da saga de Asimov tão prontamente. Se você ainda não a conhece, fique tranquilo: logo postarei algo sobre seu primeiro volume, cuja leitura encerrei há dois meses, mas cujas ideias continuam a ser digeridas em minha mente até agora.

Agora 'nuff said. Até a próxima!

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In a nutshell:

- A Crack in the Line –
Thumbs Up: narrativa emotiva e emocionante; apelo para todos os públicos; audácia em não se explicar de forma definitiva, deixando por conta do leitor boa parte de sua interpretação; cenários fáceis de serem imaginados, perfeitamente adaptáveis para um longa ou, melhor ainda, para uma série de televisão;
Thumbs Down: carga de sofrimento às vezes excessiva; falta de uma preparação para o clímax da história; ausência de personagens dignos de subtramas próprias;


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