quarta-feira, 18 de julho de 2012

Gotham Central Book Four: Corrigan


Autores: Ed Brubaker e Greck Rucka
Artistas: Steve Lieber e Kano

***
Yo! How's it going?


Para aqueles que ainda não conhecem a série Gotham Central, escrita por dois dos melhores escritores de histórias policiais em quadrinhos da atualidade (Ed Brubaker e Greg Rucka), aqui vai uma palinha: enquanto as revistas mensais de Batman e seus derivados se preocupam com os conflitos do herói e todo seu legado, Gotham Central é uma minissérie focada no departamento de polícia de Gotham, o GCPD, e como seus membros reagem ao pandemônio e caos de uma cidade que abriga loucos como o Coringa e um vigilante mascarado vestido de morcego.

Com um olhar realista e conflitos assustadoramente palpáveis, o olhar oferecido por Gotham Central sobre a força policial da cidade é humano e honesto, revelando falhas no caráter de cada um de seus membros e suas visões sobre a loucura que os ronda – além, é claro, da absurda humilhação que é para eles ter que ver Batman tomar para si a responsabilidade que lhes é incumbida inúmeras vezes.

Infelizmente, começo a falar de Gotham Central aqui no blog em seu quarto e último volume encadernado, intitulado Corrigan, cuja leitura encerrei há apenas alguns dias. Minha falha memória me impede de descrever minunciosamente os outros volumes da série aqui e agora, depois de tê-los lido há tantos meses, mas espero que isso não seja um problema. Infelizmente também, a minissérie teve vendas ruins no mercado norte-americano, apesar de ótimas críticas e até indicações aos prêmios Eisner e Harvey, o que implica que dificilmente veremos outra coisa do gênero tão cedo.

Agora ‘Nuff said. Hora de informação.

Plano de fundo: Gotham Central Book Four: Corrigan contém 4 histórias, duas das quais são divididas em arcos de 3 capítulos: o one-shot Nature, o arco Dead Robin, o one-shot Sunday Bloody Sunday e o arco Corrigan II.

Assim como diversas histórias dos outros volumes de Gotham Central, Nature e Sunday Bloody Sunday trazem breves enredos sobre a presença extraordinária de figuras sobrenaturais e seu impacto sobre a força policial real. Em Nature, por exemplo, somos introduzidos a policiais corruptos que abusam de sua autoridade e, após matar uma menina de rua inocente, continuam sua rotina de suborno e violência, alheios ao castigo fantástico que os reserva. Em Sunday Bloody Sunday, por outro lado, vemos o olhar dos policiais do GCPD sobre alguns dos eventos semi-apocalípticos da Crise Infinita. Aqui, uma manifestação dos 7 pecados capitais é liberada em uma Gotham envolta em caos, encontrando hospedeiros em todos os seus cantos, para o completo desespero da central. A presença do Capitão Marvel é uma boa adição à história, cujo enredo é o primeiro e único a abordar o lado completamente fantasioso da linha DC dentro de Gotham Central, além do amplo sentimento de impotência que policiais normais têm diante de eventos de tamanho porte.

No arco Dead Robin, a M.C.U. (Major Crimes Units) encontra um grande problema ao descobrir o cadáver de um adolescente vestido de menino prodígio. Sem saber se aquele é de fato o verdadeiro Robin, as investigações tem início prontamente. Somos guiados então por diferentes ângulos: o de Crispus Allen e sua parceira lésbica Renee Montoya (personagem que mais se aproxima de um protagonista da série); o do detetive Marcus Driver e sua parceira Josie MacDonald; e o da detetive Romy Chandler. Durante as buscas, o grupo conta com a “ajuda” de Batman, que vê circunstâncias mais do que óbvias para se envolver no caso. Cabe à M.C.U. então conciliar suas investigações com o duro trabalho de manter a imprensa fora do caminho, tarefa que consome a capitã Sawyer à exaustão. A breve participação dos Jovens Titãs é uma boa presença no enredo, cujas reviravoltas podem não ser tão surpreendentes, mas valem a pena.

Por fim, no arco Corrigan II, temos o término (ou quase isso) de toda uma subtrama envolvendo Jim Corrigan, investigador de cenas de crime cuja infame reputação de corrupto e traficante corre solta na M.C.U. Visando sua captura, o detetive Crispus Allen começa uma investigação sozinho sobre Corrigan, tentando encontrar a maneira perfeita de enquadrá-lo de vez (sua parceira, Renee Montoya, nada pode fazer, uma vez que agredira Corrigan atrás de evidências para inocentar o mesmo Crispus Allen de uma acusação de homicídio em outro volume de Gotham Central). As investigações, no entanto, tomam um rumo inesperado quando Allen percebe a grande trama ao redor de Corrigan, e agora não só Montoya como toda a M.C.U. querem a cabeça do investigador.

Papum: Nature e Sunday Bloody Sunday fogem um pouco ao padrão sólido estabelecido em Gotham Central. Ambas escritas somente por Greg Rucka, cujo único trabalho que tive a oportunidade de ler é justamente outra série do Batman, No Man’s Land, as histórias não são exatamente cânones no mainstream de Central, e pouco adicionam à coletânea; Sunday Bloody Sunday talvez seja mais relevante, com uma mudança brusca de ritmo e a inserção de fantasia em um contexto prévia e realisticamente estabelecido. Não há espaço para um grande desenvolvimento de personagens em Nature, enquanto Sunday Bloody Sunday aproveita a familiaridade adquirida pelo leitor dos detetives Allen e Montoya para poder, sob olhares já conhecidos, planar sobre a teia de acontecimentos da Crise Infinita com olhos normais.

Dead Robin já é um tanto diferente. Abordada desde o primeiro volume de Gotham Central, a comunicação entre os departamentos do GCPD ganha destaque aqui, assim como a sombra de Batman nos assuntos mais importantes dentro da central. A presença de Ed Brubaker ao lado de Greg Rucka faz diferença, dando mais vivacidade aos diálogos e uma pitada a mais de violência no clima noir com o qual Greg Rucka trabalha. Sou fã de Brubaker há um certo tempo, vendo Sleeper e Criminal como dois de seus trabalhos de maior destaque (além, é claro, dos trabalhos do autor com o Capitão América). Se o desfecho final é um pouco previsível, conflitos pessoais ganham força no arco, principalmente a tensão de Romy Chandler e a decadência de Renee Montoya, que tem seu ápice em Corrigan II e vai além de Gotham Central, tornando-a uma figura sólida no universo DC.

Falando em Corrigan II, o arco final de Gotham Central é certamente o que faz da coletânea algo realmente especial. Para fechar a série bem, Rucka (sem Brubaker novamente) distancia-se de todo e qualquer elemento fantasioso aqui e aborda apenas conflitos internos da M.C.U. Apoiando-se em duros tempos de brutalidade e perda, Corrigan II tem o clima mais real que podíamos esperar de uma história de Gotham Central: todos temos nosso ponto de ruptura e “felizes para sempre” não é um conceito exatamente sóbrio. A ausência de Batman ou qualquer outro elemento icônico no enredo nos dá um olhar peculiarmente humano à situação toda, encerrando Gotham Central em uma nota dramática mais do que apropriada.

***

In a nutshell:

- Gotham Central Book Four: Corrigan –
Thumbs Up: clímax e desfecho da série mais do que apropriados; diálogos reais e arte expressiva; Easter Eggs como a presença dos Jovens Titãs e o Capitão Marvel; término de uma construção de Gotham talvez ainda mais real do que a realizada nos filmes de Christopher Nolan; potentes sequências "mudas" em preto e branco; ótimo uso de simultaneidade na narrativa;
Thumbs Down: falta de resolução para alguns personagens (em especial o detetive Marcus Driver, que justamente deu início à série); falta de divulgação da série por parte da DC; saída de Brubaker após o arco Dead Robin;

Nenhum comentário:

Postar um comentário