sexta-feira, 27 de julho de 2012

The Man in the High Castle


Autor: Phillip K. Dick
Ano de publicação: 1962

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Yo! How’s it going?

Muito bem, acabo de ser nocauteado.

Terminar a leitura de uma obra como “The Man in the High Castle” é um golpe sem misericórdia, um soco na mente e nos sentidos capaz de transportar qualquer leitor a um êxtase literário que só ficção de qualidade pode proporcionar. E como pode.

Sou fã incondicional das obras de Phillip K. Dick há algum tempo. Hell, ele é meu autor favorito. No entanto, acho que nem os excelentes “Ubik” ou “Do Androids Dream of Electric Sheep?” conseguem superar esta obra escrita ainda antes deles, um curto e impactante livro capaz de desmontar uma realidade inteira para depois reconstruí-la em apenas 3 páginas; uma obra tão completa que suspense, coesão, filosofia e personalidade se misturam em um pastiche perfeito. Sim, refiro-me a “The Man in the High Castle”.

Plano de fundo: Estamos no início da década de 60. O mundo, porém, não é como o conhecemos. O Eixo saiu vencedor da guerra há 15 anos terminada.

“The Man in the High Castle” segue a história de diversos protagonistas em um mundo dominado pelo Reich alemão nazista e o império japonês, lados vitoriosos da Segunda Guerra Mundial. O Reich tem controle da Europa e da África e é o dono de uma corrida espacial completamente unilateral, sem limites de expansão. Já ao império japonês cabe o subordinado continente americano, em especial os Estados Pacíficos da América, onde a história toda se passa.

Quando é anunciada a morte do führer Bormann (Hitler há anos é tido como mentalmente incapacitado), tem início uma disputa de poder entre os nazistas para saber quem será seu sucessor e o novo Reichskanzler (chanceler) do Partido. O conflito tem reflexos profundos no mundo inteiro, é claro,  já que o homem detentor do cargo será indubitavelmente um dos homens mais poderosos do mundo. Em meio a isso, então, surgem tramas sombrias que podem desencadear mais uma sangrenta colisão de forças e resultar em uma nova guerra, desta vez justamente entre as duas facções que dividem o mundo. Os dados são lançados e cada personagem tem sua participação  nessa rede de acontecimentos, todos entrelaçados por um livro proibido em todo o território do Reich: “The Grasshopper Lies Heavy”, um romance que descreve um mundo onde os Aliados saíram vencedores da Segunda Guerra Mundial. Um romance que descreve justamente o nosso mundo.

Papum: Phillip K. Dick é um dos poucos autores que julgo incriticáveis. Seus incríveis trabalhos superam o desafio do tempo e se estabelecem como verdadeiras obras-primas da ficção científica de geração em geração, mantendo-se atuais em qualquer tempo. Sua escrita é forte, seu apelo inteligente, suas tramas desafiadoras. Um leitor que se preza precisa disso.

Como o próprio autor descreve durante o livro, e tomo a liberdade de traduzir a passagem aqui (já que li a obra original em inglês), “a ficção apela para as luxúrias básicas que se escondem em todos, independentemente do quão respeitáveis essas pessoas são por fora. Sim, um romancista conhece a humanidade, o quão sem valor ela é, dominada por testículos, movida por covardia, vendendo qualquer causa por conta de sua ganância – tudo que ele tem que fazer é bater no tambor e então há resposta. E ele ri, é claro, por trás de sua mão, do efeito que conseguiu.” Pois é, Dick não podia estar mais correto.

“The Man in the High Castle” é um livro que aborda inúmeros temas com força ímpar e olhar peculiar. O cenário de subserviência do mundo perante as forças alemãs e japonesas talvez seja o mais explícito, mas não o mais importante. A tensão social provocada pela sensação de superioridade cultural entre japoneses e norte-americanos, por exemplo, é palpável durante toda a obra, atingindo picos de reflexão nacionalista que comovem os mais patriotas (ou mesmo nós, que nada temos a ver com a história) e mexem com um profundo senso de orgulho. Dominante e dominado travam não só batalhas verbais como verdadeiramente mentais, frutos de diálogos e descrições pesadas de Dick que dão força e relevância ao problema, muito mais intrínseco do que o imaginado.

Somado a isso, é óbvio que temos a presença de religião. Phillip K. Dick, no entanto, não tem o feitio de usar bases normais. Aqui, ele utiliza os versos do I Ching como o grande livro, as palavras salvadoras ou, mais precisamente neste caso, a Grande Providência: a força milenar chinesa capaz de prever o sucesso ou insucesso, a única e verdadeira fonte de revelação. A maior parte das personagens da obra carrega uma grande dependência perante os versos do I Ching, visão propositalmente inserida ao contexto mundial criado por Dick com muita eficácia. Afinal de contas, após a vitória do Eixo, a consagração ariana e a expansão oriental, é natural que inúmeras religiões tenham deixado de existir. A Bíblia, então, é substituída.

Outra discussão que o livro sugere, que também está presente em “Do Androids Dream of Electric Sheep?”, é o valor atribuído àquilo que é original ou copiado. Aqui, um elemento os diferencia: a historicidade; a absorção de Yin e Yang do objeto, a energia nele contida, o wu que por ele flui, as vidas que por ele passaram. Uma bela análise, sem dúvidas, mas altamente subjetiva e sem valor prático. Em um mundo sem sensibilidade, do que vale isso? No final das contas, uma cópia bem feita pode sim ser confundida com sua original, desconstruindo toda uma linha de raciocínio profunda e singular. Phillip K. Dick brinca com isso e nos apresenta os dois lados de uma moeda que não pode ser ao certo determinada. 

Por fim, para não me estender muito, ressalto o uso da ficção dentro da ficção. O livro “The Grasshopper Lies Heavy” é um dos elementos que move a trama, e é interessante observar seu impacto no mundo onde está inserido, quase diretamente proporcional ao impacto que “The Man in the High Castle” teve em nosso mundo. O escritor da obra fictícia, Hawthorne Abendsen, é o “Homem no Castelo Alto”, e sua mítica presença dentro de sua imaginária fortaleza a todos altera. É na grande revelação do I Ching sobre "Grasshopper", por exemplo, que o livro tem seu clímax, impossível de ser melhor apropriado, mas de difícil assimilação para leitores casuais. Sim, há construção e desconstrução, um jogo de mundos sutil e perverso que vale a pena ser descoberto e entendido com calma. E como vale.

‘Nuff said, now. Continuem ligados e não se esqueçam de seguir meu blog, ok?

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In a nutshell:

- The Man in the High Castle –
Thumbs Up: escrita potente e desafiadora; ideias e criatividade verdadeiramente únicas; vasta relevância cultural e conteúdo político-informativo; incrível desenvolvimento de personagens; bagagem histórica factual aliada à ficção; clímax poderosíssimo;
Thumbs Down: --- 

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