Elenco: Leonardo DiCaprio, Naomi Watts, Armie Hammer, Josh Lucas, Judi Dench
***
Yo! How's it going?
Depois de trazer a vocês um pouco sobre "Sete Dias com Marilyn", hoje abordo aqui no blog um filme mais biográfico do que a película já mencionada: "J. Edgar", longa dirigido por Clint Eastwood que narra os principais eventos da carreira do homem responsável tanto por parte da idealização como inteira solidificação do mais famoso escritório de investigações do mundo: o Federal Bureau of Investigation.
Plano de fundo: Apesar de jovem, John Edgar Hoover (Leonardo DiCaprio) é altamente ambicioso, fruto talvez da rígida educação dada por sua mãe ou simplesmente pelo alto senso de idealismo que rege sua noção de justiça. Com a ameaça comunista interna assolando os EUA em uma onda de terror e ataques bolcheviques, Hoover encontra o espaço necessário para se inserir no cenário político-investigativo norte-americano e se promover rapidamente graças a suas aguçadas e inabaláveis convicções.
Dirigindo o reestruturado Bureau de investigações, Hoover logo se depara com conflitos que colocam em cheque o ideal norte-americano e a ordem pública, situação que pede medidas extremas. Entra em vigor a federalização do escritório sob seu comando, que quanto mais se promove, mais acaba por se atrelar ao próprio governo norte-americano e suas mais importantes figuras, entrelaçando-se em teias de eventos que se estendem por décadas e ainda são especuladas. Assim como o próprio FBI, é claro, Hoover mantém uma parcela mais do que notável de segredos, e aqueles revelados em seu memoir podem ter sua exatidão mais do que discutível, mas são indubitavelmente chamativos.
Papum: Se ainda há aqueles que podem achar um filme como "J. Edgar" apenas monótono, ainda bem que também há aqueles que estejam dispostos a continuar produzindo películas como essa: misturando fatos históricos, teorias e suposições em um enredo bem estruturado, "J. Edgar" é uma boa pedida para os interessados pela rica e misteriosa história do FBI que carecem de uma visão cinematográfica recente séria e nada caricata de agências governamentais trabalhando sob seus respectivos departamentos de justiça; nesse quesito, pois bem, "J. Edgar" tem sucesso.
Avisando o espectador logo de cara que é um longa biográfico que está por vir, o roteiro de Dustin Lance Black e direção de Eastwood fazem questão de posicionar o velho J. Edgar Hoover perante agentes que transcrevem os principais eventos da história do mesmo (e também do FBI) para então nos conduzir pelos principais acontecimentos de sua vida alternando entre o presente da década de 50 e toda a trajetória de Hoover no Bureau, iniciada em 1924. Sendo assim, o que vemos é uma boa mistura de realidade e especulações que oferece curiosos insights sobre as principais conquistas de Hoover e do FBI em si: de sua seleção polêmica de agentes de aparência heroica à captura de notórios indivíduos procurados por todo o país usando técnicas de investigação pioneiras na época, como o uso de notas marcadas ou o sistema de armazenamento de impressões digitais para a formação de um banco de dados nacional. É claro que tudo é feito através do punho de ferro de Hoover e seu incrível idealismo de que o terror está à espreita em qualquer esquina, lembrando-nos de como o medo é o fator mais importante na concessão e obtenção de poder. Nesse quesito, "J. Edgar" é honesto e promove a ascensão de seu personagem às custas do que está na cara de todos, mas muitos ainda se recusam a ver.
Se a motivação e personalidade do protagonista são fortes, as inúmeras referências históricas entram em cena para aguçar nossa curiosidade, apesar de apenas breves para uma contextualização mais ampla. Mesmo assim, tudo de extremamente relevante está aqui: o caso do bebê Lindbergh, as apreensões de famosos gangsteres como John Dillinger (caso abordado no bom filme "Inimigo Público", com Johnny Depp e Christian Bale), "Baby Face" Nelson, George "Machine Gun" Kelly, o envolvimento do FBI com o governo de Roosevelt; tudo é parte das promoções que o Bureau ganha através de Hoover e seus atos que por vezes não parecem ortodoxos, mas sem dúvida funcionam. Nessa linha, também entram em cena e ganham destaque as polêmicas aparições e conexões da personagem com o senador Robert Kennedy e seu irmão, o presidente John Kennedy, cenas em que Eastwood promove a continuação de teorias conspiratórias que conectam o FBI ao horrendo crime há décadas. No entanto, a abordagem é feita sutilmente, como não poderia deixar de ser: afinal, até hoje se especula sobre o assunto, e o único fato consumado é que a morte de Kennedy deu ainda mais poder ao FBI, que passou a incorporar casos de oficiais federais sob sua jurisdição. O que fica claro, no entanto, é que Hoover sabe de tudo o que se passa na Casa Branca, e resta a historiadores analisar e diferenciar verdades de rumores.
Em uma nota mais artística, "J. Edgar" ganha notoriedade pela ótima performance de Leonardo DiCaprio. Mesmo contando com uma maquiagem pouco convincente, talvez o maior defeito do filme, o ator leva a película nas costas e promove com sucesso as diferentes fases da vida de sua personagem, assim como seus conflitos internos que variam do medo e respeito profundos por sua mãe aos maiores indícios da homossexualidade de Hoover. Eastwood sabiamente inclui tais rumores em pitadas precisas e corajosamente diretas, podendo ofender e agradar historiadores na mesma proporção, já que há aqueles que refutam ou acreditam no fato com convicção. De um ponto de vista narrativo, o resultado é altamente efetivo, adicionando mais uma camada de complexidade à já interessante personagem que serve de combustível para a manutenção de seu grande mito. Concordar ou não com os métodos de Hoover fica a cabo do espectador, mas sua importância como figura histórica especulativa deve ser preservada, o que é realizado de modo mais do que satisfatório. Só por isso, "J. Edgar" é um filme de amplo sucesso, já que não está nas suas mãos afirmar tudo que ocorreu, mas sim mostrar-nos uma grande variedade de ideias e discussões que possam continuar uma cadeia de estudos já existente há muito tempo.
Agora 'nuff said. Deixem seus comentários e até a próxima!
***
In a nutshell:
- J. Edgar -
Thumbs Up: referências históricas factuais se mesclam à deduções de modo convincente; Leonardo DiCaprio mais uma vez excelente; coragem em abordar rumores políticos e eventuais escândalos da Casa Branca abertamente, assim como a opção sexual de seu protagonista;
Thumbs Down: falta de trilha sonora; maquiagem pouquíssimo inspirada; escolha de estilo narrativo efetiva, mas nada original;
Nenhum comentário:
Postar um comentário