Artista: Ramón K. Pérez
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Yo! How's it going?
Mais quadrinhos aqui no blog Streampunk. É com muito orgulho desta vez que falo sobre o ganhador do prêmio Eisner de quadrinhos de 2012, a consagração máxima da mídia em questão: o fabuloso "Tale of Sand", idealizado pelos já falecidos Jim Henson e Jerry Juhl (criadores dos Muppets) como um roteiro de cinema do final da década de 60 que jamais viu a cor do céu. On to it, then.
Plano de fundo: Mac recebe uma lambuja de dez minutos, e tem de aproveitá-la. É hora então de correr; correr além da pacata cidade do sudoeste norte-americano, adentrar o deserto que a rodeia antes que cheguem até ele. Afinal de contas, ele tem uma missão, mesmo que o próprio Mac não saiba ao certo qual é. Em sua frenética jornada, então, o agora apontado Desperado (fora-da-lei do oeste) deve passar pelas provações mais inimagináveis e loucas já sonhadas se quiser se livrar daqueles que o perseguem e chegar vivo aonde quer que suas pernas o levem.
Papum: "Tale of Sand" é uma daquelas histórias difíceis de serem analizadas; sem um objetivo claramente determinado e nem motivações pré-estabelecidas, o conto apenas posiciona o leitor ao lado de sua personagem e a insere em conceitos absolutamente surreais que não precisam necessariamente fazer sentido. Pois é, e o resultado é formidável.
Desde o começo fica bem claro por que Jim Henson e Jerry Juhl nunca conseguiram que produtora alguma se interessasse por "Tale of Sand" a ponto de filmá-lo. Altamente visual e exquisite, o conto precisaria de um belo investimento cinematográfico para ter seu enredo contado de forma fiel, e mesmo assim o resultado dificilmente atrairia um grande público aos cinemas na época em questão (e nem agora, pensando bem). Afinal, não estamos diante de uma obra verborrágica que quer fazer seus espectadores se sentirem bem ao entendê-la, tampouco de algo que deve fazer sentido. Estamos diante de uma trama que leva seu protagonista ao extremo página após página, ora em ambientes extremamente claros (os planos de Pérez em amarelo e laranja são simplesmente brilhantes) e ora em escuros (vez de tons de roxo, azul e cinza); ora com cenários desertos e ora com ambientes completamente apinhados. Tais contrastes são ainda adocicados quando entram em cena leões, tubarões, jogadores de futebol americano e outros inúmeros elementos totalmente aleatórios sobre o qual o leitor não precisa e nem deve parar para racionalizar, mas sim incorporar à trama de bom coração, já que tudo indica que o sol escaldante e a ausência de nicotina podem estar causando alucinações em nosso herói desde o início, o que não seria tão absurdo assim.
Se o trabalho de Jim Henson e Jerry Juhl (que também acabaram virando personagens em "Tale of Sand", se os mais atentos puderem notar) impressiona por sua criatividade, Ramón K. Pérez faz muito bonito também. Dono de uma arte que flerta entre o cartunesco e o detalhismo, Pérez esboça cenários incríveis e diferentes sequências de quadros durante toda a obra, preocupação clara em prender seu leitor com um dinamismo digno de uma história tão maluca. Seu trabalho é completo, suas cenas de movimento extremamente eficazes, suas escolhas de coloração impecáveis. Tudo isso resulta em uma montanha-russa frenética de eventos que, desde o princípio, dependem completamente do visual da obra para convencer, responsabilidade que Pérez assume e ainda faz questão de mostrar ao colocar diversas páginas do roteiro original de Henson e Juhl durante "Tale of Sand", possibilitando ao leitor ver o material original com o qual o próprio Pérez trabalhou para desenhar a história. Tal honestidade não serve apenas como easter egg, mas também como uma espiada na fonte de ideias da Graphic Novel e em como Pérez interpretou o trabalho que recebeu em mãos.
Por fim, é interessante ressaltar que "Tale of Sand" é uma obra cíclica, o que já chamei aqui no blog de pequena eternidade. O enredo começa no ponto onde termina, e assim se repete indefinidamente, valorizando muito eventuais releituras e abrindo margem para diferentes interpretações. A viagem é boa, acreditem.
Agora 'nuff said. Não deixem de conferir "Tale of Sand" quando a obra chegar ao Brasil. Continuem a acompanhar o blog e até a próxima!
Desde o começo fica bem claro por que Jim Henson e Jerry Juhl nunca conseguiram que produtora alguma se interessasse por "Tale of Sand" a ponto de filmá-lo. Altamente visual e exquisite, o conto precisaria de um belo investimento cinematográfico para ter seu enredo contado de forma fiel, e mesmo assim o resultado dificilmente atrairia um grande público aos cinemas na época em questão (e nem agora, pensando bem). Afinal, não estamos diante de uma obra verborrágica que quer fazer seus espectadores se sentirem bem ao entendê-la, tampouco de algo que deve fazer sentido. Estamos diante de uma trama que leva seu protagonista ao extremo página após página, ora em ambientes extremamente claros (os planos de Pérez em amarelo e laranja são simplesmente brilhantes) e ora em escuros (vez de tons de roxo, azul e cinza); ora com cenários desertos e ora com ambientes completamente apinhados. Tais contrastes são ainda adocicados quando entram em cena leões, tubarões, jogadores de futebol americano e outros inúmeros elementos totalmente aleatórios sobre o qual o leitor não precisa e nem deve parar para racionalizar, mas sim incorporar à trama de bom coração, já que tudo indica que o sol escaldante e a ausência de nicotina podem estar causando alucinações em nosso herói desde o início, o que não seria tão absurdo assim.
Se o trabalho de Jim Henson e Jerry Juhl (que também acabaram virando personagens em "Tale of Sand", se os mais atentos puderem notar) impressiona por sua criatividade, Ramón K. Pérez faz muito bonito também. Dono de uma arte que flerta entre o cartunesco e o detalhismo, Pérez esboça cenários incríveis e diferentes sequências de quadros durante toda a obra, preocupação clara em prender seu leitor com um dinamismo digno de uma história tão maluca. Seu trabalho é completo, suas cenas de movimento extremamente eficazes, suas escolhas de coloração impecáveis. Tudo isso resulta em uma montanha-russa frenética de eventos que, desde o princípio, dependem completamente do visual da obra para convencer, responsabilidade que Pérez assume e ainda faz questão de mostrar ao colocar diversas páginas do roteiro original de Henson e Juhl durante "Tale of Sand", possibilitando ao leitor ver o material original com o qual o próprio Pérez trabalhou para desenhar a história. Tal honestidade não serve apenas como easter egg, mas também como uma espiada na fonte de ideias da Graphic Novel e em como Pérez interpretou o trabalho que recebeu em mãos.
Por fim, é interessante ressaltar que "Tale of Sand" é uma obra cíclica, o que já chamei aqui no blog de pequena eternidade. O enredo começa no ponto onde termina, e assim se repete indefinidamente, valorizando muito eventuais releituras e abrindo margem para diferentes interpretações. A viagem é boa, acreditem.
Agora 'nuff said. Não deixem de conferir "Tale of Sand" quando a obra chegar ao Brasil. Continuem a acompanhar o blog e até a próxima!
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In a nutshell:
- Jim Henson's Tale of Sand -
Thumbs Up: arte magnífica de Ramón K. Pérez; cores vibrantes que fazem a obra pulsar; enredo audacioso e completamente visual que se renova a todo instante; senso cíclico de boa conversação e planejamento; surrealismo divertido e corajoso;
Thumbs Down: -----
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