sexta-feira, 17 de agosto de 2012

Locke & Key Vol. 3 – Crown of Shadows


Autor: Joe Hill
Artista: Gabriel Rodriguez

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Yo! How’s it going?

Hora de falar sobre mais um ótimo título em quadrinhos em andamento nos Estados Unidos: a série de suspense e terror chamada “Locke & Key”.

Como começo a falar dela em seu terceiro volume encadernado, gostaria de situar meus leitores quanto a elementos essenciais da trama: “Locke & Key” narra a história da família Locke, composta por Nina e seus filhos Tyler (primogênito), Kensie (filha do meio) e Bode (caçula). Após a morte de Rendell (marido de Nina e pai das crianças) pelas mãos de um assassino psicopata chamado Sam Lesser, os Locke optam por retornar à cidade natal de Rendell, Lovecraft, para poder fugir da dor e recomeçar a vida. O problema é que a mansão Locke esconde segredos incríveis por todos os seus cantos, e as chaves para desvendá-los talvez façam muito mais do que simplesmente abrir portas. Além disso, um mal terrível se esconde nos domínios da mansão, e liberá-lo pode significar muito mais dor aos Locke do que eles jamais imaginaram. On to “Crown of Shadows”, then!

Plano de fundo: A vida dos Locke continua de pernas para o ar. Como se não bastasse todo o esforço para aceitar e trabalhar com a série de eventos absurdos que tem acontecido, Tyler, Kensie e Bode ainda tem de lidar com a loucura de sua mãe Nina, que mergulha cada vez mais no mundo das bebidas como refúgio contra a realidade. Paralelamente, o misterioso “amigo” de Tyler, Zack, continua a procurar pelas poderosas chaves da mansão dos Locke – afinal de contas, tais chaves são capazes de realizar feitos incríveis como transportar uma pessoa a qualquer lugar do mundo, separar espírito e corpo, abrir a mente ou até realizar uma troca de sexos. O que Zack busca em especial, no entanto, é a chave ômega, a mais importante chave da mansão.

Guiado por grandes ambições e até mesmo um senso de insanidade, Zack utiliza uma de suas chaves para poder controlar a coroa que dá ao seu usuário poder sobre o mundo das sombras. Ao seu comando, as criaturas sombrias agora buscam a chave ômega a todo custo, o que pode significar para os Locke um confronto de vida ou morte entre as criaturas e eles próprios. Afinal, eles ainda habitam a mansão, quer Zack queira ou não.

Papum: Desde o início, “Locke & Key” foi realmente um achado para mim. Resolvi apostar na série após o lançamento de seu primeiro encadernado sabendo quase nada sobre ela, e fui fisgado pelo ótimo trabalho de Joe Hill (filho do escritor Stephen King) e Gabriel Rodriguez de uma vez – trabalho esse que levou os dois a indicações ao prêmio Eisner de quadrinhos posteriormente.

Sombrio e potente, fantasioso e palpável, “Locke & Key” é uma ótima mistura de terror e suspense sobrenatural que funciona muito bem através de seu sólido enredo, belíssima arte e personagens consistentes - apesar da loucura que os ronda, os Locke também têm problemas de relacionamento, conflitos pessoais e objetivos próprios, uma humanização que traz os leitores muito próximo à família e adiciona muito mais importância às tramas narradas.

Em “Crown of Shadows”, mais algumas chaves da mansão Locke são apresentadas, e a criatividade de Hill brilha novamente. Quem não gostaria de ter uma chave capaz de abrir nossa mente para que pudéssemos inserir ou remover dela o que quiséssemos? E quanto a ir à qualquer lugar no mundo? Que tal controlar as sombras? Sim, controlar as sombras: esse é um elemento que qualquer vilão que se preze deve abordar, o que Hill sabe muito bem. Sombra e luz se enfrentam em uma batalha feroz em “Crown of Shadows”, seja ela física ou metafórica. Afinal, os Locke até agora tiveram mais do que sua cota de sombras em suas vidas, mas nem isso foi capaz de apagar os laços que os unem e os fazem proteger um ao outro.

A arte de Rodriguez merece muito destaque, também. Não é sempre que um desenhista consegue prender a atenção do leitor ao mostrar sequências de quadros “mudos” que tomam uma página inteira, e a batalha que sucede no terreno dos Locke é grandiosa demais para ser narrada em quadros tradicionais; há o senso apropriado de uma cena épica aqui muito bem trabalhada por Hill e Rodriguez, em plena sintonia desde o início da série “Locke & Key”.

Outro destaque está nos planos de conflito entre sombra e luz, onde o uso de uma lanterna por parte da personagem Kensey provém ao leitor ótimas sequências e planos de contraste que são de tirar o fôlego. Hill sente que o momento deve ser visual, não interferindo no trabalho de Rodriguez com falas desncessárias. O autor, no entanto, não se apoia somente no lado gráfico da obra, inserindo-se de volta ao enredo com um timing impressionante, o que me faz olhar para o trabalho de Mark Millar em “Kick-Ass 2” com ainda mais desgosto.

Referências legais à literatura também podem ser vistas aqui e acolá. Na estante dos Locke, por exemplo, podemos observar alguns clássicos que simplesmente precisam ser lidos, como “Ubik” de Phillip K. Dick, “20.000 Léguas Submarinas” de Júlio Verne ou “Moby Dick”, de Herman Melville. A homenagem singela a tais livros é sutil e interessante, mesmo que Hill ou Rodriguez tenha, por exemplo, errado o nome do livro “At the Mountains of Madness”, de H.P. Lovecraft, chamando-o de “In the Mountains of Madness”. Somado a tudo isso também temos a sombra de Peter Pan e todo um exército de criaturas do mundo da fantasia atrás dos Locke.

Por fim, o volume ganha um sentido ainda mais amplo de drama ao narrar a descida de Nina ao fundo do poço – evento esse que leva as personagens a uma descoberta incrível. A ponta solta deixada por Hill em “Crown of Shadows” é de fazer vibrar, deixando qualquer leitor ansioso pelo novo volume da série.

‘Nuff said, now. Se você é amante de quadrinhos, ler “Locke & Key” é mais do que diversão garantida. A popularidade da série é grande inclusive entre outros autores de quadrinhos, o que fez o título chegar muito perto de virar uma série de TV (série essa que, se baseada ns quadrinhos, eu assistiria com certeza). Deixo vocês, então, com o link para o teaser do piloto da série que acabou não vingando, e espero que esse aperitivo visual os interesse a conhecer a história dos Locke.


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In a nutshell:

- Locke & Key Vol. 3 – Crown of Shadows –
Thumbs Up: roteirista e artista em perfeita sintonia; quadros largos de proporções épicas que vivem todo o seu potencial narrativo; luz e sombras em um conflito sólido e interessante; drama pessoal que nos mantém próximos às personagens; arte linda de Rodriguez;
Thumbs Down: talvez a subtrama que abre o encadernado, já que ela não parece ter consequência alguma para a série e se isola do restante do enredo;     

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