domingo, 25 de novembro de 2012

The Sandman Vol. 9 - The Kindly Ones

Autor: Neil Gaiman
Artistas: Kevin Nowlan, Marc Hempel, Glyn Dillon, Charles Vess, Dean Ormston, D'Israeli, Teddy Kristiansen

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Yo! How's it going?

Depois de um certo tempo sem falar de "The Sandman" aqui em Streampunk, volto à série em minha postagem de hoje para discorrer sobre o nono e penúltimo encadernado da coleção, intitulado "The Kindly Ones". Quem tem interesse em saber um pouco mais sobre o brilhante trabalho de Gaiman que certamente mudou o mundo dos quadrinhos desde sua publicação pode acessar meu primeiro texto sobre a coleção abordando o quinto arco do título, "A Game of You".

Plano de fundo: As Fúrias estão reunidas, e seu plano começa a tomar corpo; afinal, sem seu bebê Daniel, Lyta Hall já não tem mais motivos para viver, ficando à deriva entre realidades até ser recrutada pelas três calculistas entidades em seu plano de derrubar o rei do mundo dos sonhos, Morfeus (ou Morpheus, no original). Paralelamente, uma série de eventos caóticos envolvendo anjos renegados, deuses nórdicos e os outros Perpétuos (Endless) também chega a atenção de Sonho, que agora se prepara para terríveis e inevitáveis acontecimentos que estão além de suas mãos, mas dentro de suas responsabilidades.

Papum: Sabendo previamente que "The Kindly Ones" é o penúltimo arco da coleção inteira de "The Sandman", qualquer análise ou abordagem da obra ganha uma perspectiva diferente e interessantes pontos de vista para o seu vasto e complexo conteúdo. Afinal, o que não falta no encadernado são justamente eventos importantes, mesclando diversos personagens que já haviam dado as caras durante a série e colocando-os em caminhos que se interligam, culminando assim em um resultado tão arrebatador quanto inevitável para o notório Morpheus.


Resgatando logo em seu início as já famosas personagens Lyta Hall e seu filho Daniel, "The Kindly Ones" expande o zelo da mulher por seu bebê e logo de cara cumpre a promessa feita por Neil Gaiman em volumes anteriores: o destino do garoto sempre estivera marcado, fato pelo qual Lyta inexoravelmente repudia o deus dos sonhos. Aqui, então, finalmente vemos o tear de acontecimentos se desenrolar, conduzido magistralmente por Gaiman em viagens de delírio e subjetividade de Lyta desde o momento em que Daniel desaparece até depois de seu recrutamento perante as Fúrias. Alegoria e intensos diálogos abstratos permeiam a trama central, pontuada em diversos momentos por subtramas igualmente interessantes: Lucifer, Remiel, Loki e Odin fazem aparições muito agregadoras em paralelo, ajudando-nos a compreender o escopo do que está prestes a acontecer e os impactos que o fato há de provocar. Nesse meio tempo, o mundo dos sonhos ganha um olhar peculiar através de seus habitantes em pânico e de um agora depressivo Morpheus, que não se recuperou ainda da morte de seu filho Orfeu.


Para narrar todo o dinamismo e convir o senso de loucura que "The Kindly Ones" tenta transmitir, a escolha de Marc Hempel como desenhista central do arco é certamente interessante. Dono de um traço de fortes contornos e poucos pormenores, focos faciais ganham muita importância, assim como um contraste de cores simples que torna qualquer sombreamento direto e forte. Aliás, todos os planos traçados contam com bastante vivacidade, e embora entenda que o traço de Hempel pode não ser bonito em termos proporcionais na maioria de seus quadros, sua escolha casa com a frenética montanha-russa apresentada por Gaiman de modo sutil e eficaz. Igualmente eficientes, então, são as citações e referências que o autor inglês usa a partir de mitologia grega, poesias e prosas Edda e até mesmo trabalhos shakespearianos para dar corpo ao seu enredo, culminando na "tragédia" que reestrutura a personagem central de "The Sandman" de uma vez por todas - transformação essa já há muito anunciada com a frequente humanização do deus arco após arco, aqui consumada de vez. Por mais que tentara o contrário, desde seu emprisionamento e maior contato com humanos, Morpheus constantemente adquiriu traços e preocupações terrenas que o distanciavam cada vez mais de seus irmãos Endless e o posicionavam em um plano de constante transição entre questionamentos etéreo e reais, uma era tão próxima quanto inevitável. Tal realização é justamente o ponto mais alto de "The Kindly Ones", que termina abrindo o caminho para o que acredito que sejam as primeiras viagens de Morpheus sob sua nova representação, redefinindo seu papel no panteão de deuses e consumando sua imortalização e relevância cultural tanto quanto ícone divino em seu universo enquanto importante figura simbólica para nós.

Ainda em uma nota artística, merecem destaques os artifícios narrativos usados por Gaiman tanto para começar quanto para encerrar sua história: são as Fúrias que a iniciam e a terminam com referências claras de como inícios são muito mais complicados que términos - referência ao que irá acontecer e o que de fato aconteceu ao final do volume. Também é interessante notar como a página-título da maioria dos capítulos contidos em "The Kindly Ones" é representada por construções, constantemente alterando o foco narrativo e entrando no "reino" de cada personagem como se estivéssemos espiando por atrás do portão as reviravoltas que estão prestes a ocorrer. Por esses e outros motivos (muito maiores do que tenho a pretensão de analisar), "The Kindly Ones" é tanto o maior quanto mais impactante arco de "The Sandman" desde seu lançamento, ainda que eu particularmente prefira uma mescla mais sonora de história real com os predicamentos de Morpheus do que os rumos altamente metafóricos que Gaiman assume aqui. Mas isso é uma questão de gosto, e a competência de Gaiman jamais esteve em questionamento.

Agora 'nuff said. Sigam o blog e até a próxima!


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In a nutshell:

- The Sandman Vol. 9 - The Kindly Ones -
Thumbs Up: redefinição do mito antes de sua canção de cisne; subtramas relevantes e imensamente ricas; dinamismo narrativo e personagens tão interessantes quanto complexas; referências mitológicas encorpadas e bem aproveitadas; clímax muito bem estruturado;
Thumbs Down: grande uso de metáforas e subjetividade que limita o público do arco; arte de Marc Hempel não deve agradar a todos, mesmo que cumpra seu papel pontualmente; 

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