quinta-feira, 11 de outubro de 2012

O Corvo

Direção: James McTeigue
Roteiro: Ben Livingston e Hannah Shakespeare
Elenco: John Cusack, Alice Eve, Brendan Gleeson, Luke Evans

***

Yo! How's it going?

Segunda dose de cinema aqui no blog Streampunk esta semana. Depois de tratar do longa "Tão Forte e Tão Perto", volto hoje para falar sobre "O Corvo", terceira película baseada no poema homônimo escrito por um dos maiores mestres de histórias de terror de todos os tempos, o autor norte-americano Edgar Allan Poe.

Plano de fundo: Frustrado pelos rumos pouco satisfatórios que sua carreira tem tomado, o excêntrico escritor Edgar Allan Poe (John Cusack) retorna à cidade de Baltimore, Maryland, tentando se restabelecer e retomar seu caminho de sucesso com publicações locais. Além de seu latente estado de alcoolismo e constante atrito profissional, no entanto, o autor ainda tem de lidar com seu interesse pela bela e jovem Emily Hamilton (Alice Eve) e a aversão de seu pai durão, o Capitão Hamilton (Brendan Gleeson), dificuldades essas que teimam em deixá-lo estagnado e consequentemente improdutivo.

Quando uma série de homicídios baseados em contos previamente publicados de Poe começa a ser investigada na própria Baltimore, o inspetor Emmet Fields (Luke Evans) não vê saída senão buscar a ajuda do escritor para poder entender e desvendar a verdade sobre a identidade do assassino serial que assola a cidade. O problema é que sua próxima vítima é justamente Emily, e agora Poe e Fields devem correr contra o tempo se quiserem resgatar a amada do escritor antes que seu destino seja terrivelmente selado.

Papum: "O Corvo" pode até ser para muitos um longa intrigante e até mesmo divertido, repleto de referências interessantes a diversos trabalhos de Edgar Allan Poe para tentar atrair os leitores mais hardcore do escritor. No entanto, ao seu término, não há uma sensação de que aprendemos muito sobre o autor exceto as circunstâncias de sua morte (isso não é um spoiler, e sim a cena inicial do filme), o que torna toda a experiência um tanto quanto superficial e faz do filme não mais do que uma simples sessão pipoca com os amigos.

Contando com cenários que remetem ao século XIX que oscilam entre entre construções reais e computação gráfica mediana, "O Corvo" tem uma produção até que bacana para o desenrolar de sua história, mas seu roteiro não está a altura de poder inserir Edgar Allan Poe em seu meio, diferentemente da ótima história de Woody Allen no recente "Meia Noite em Paris", um pastiche divertidíssimo de autores cujas personalidades e excentricidades são retratadas de modo excelente. Aqui, John Cusack até faz um bom papel na caracterização física e supostamente comportamental de Poe, mas a humanização do escritor talvez tenha sido feita em demasia, removendo a mística de sua mente amplamente perturbada. Sua motivação amorosa não parece muito sólida e contrasta com o egoísmo e trejeitos de Poe, dando a entender que só está lá porque não havia opção melhor ou porque seus idealizadores queriam fazer de Poe um verdadeiro herói, o que pode ser altamente debatido.

Como sempre em filmes de assassinos seriais, a velha fórmula de pistas e correria também entra em cena aqui, tentando nos confundir quanto à identidade do assassino até as cenas finais do longa. O que ocorre, no entanto, é que sua revelação não é muito surpreendente, ainda que não seja totalmente previsível como o espectador pode achar em certo ponto. Mesmo assim, o suspense é conduzido de um bom modo nas mãos do australiano James McTeigue, ainda que o diretor não use a variação criativa ou filosófica mostrada em "V de Vingança", mesmo tendo material para tal. Aqui, o foco é inteiramente na perseguição do sujeito, e mesmo as boas citações de Poe acabam perdidas perante o objetivo central do filme, ao contrário do longa baseado na obra de Alan Moore, onde trama e conteúdo trabalham lado a lado. O uso de planos em slowmo é mais baixo aqui também, o que é certamente agradável dado a época em que a história se passa, ao contrário do que ocorreu no último filme de Sherlock Holmes estrelando Robert Downey Jr., onde a técnica é usada de modo abusivo e inescrupuloso.

Por fim, vale ressaltar também a tendência gore que o filme carrega em seu início e acaba explorada apenas levemente em seu decorrer. A promessa está lá logo de cara, mas não é seguida e pode resultar em decepções por parte do público que a tinha como importante. O que fica, porém, é a velha ambientação onde o plano do vilão é explicado detalhe por detalhe, mesmo sem uma verdadeira necessidade. Em contrapartida, a resolução do conflito é mais série e se utiliza de fatos reais para se construir, formando talvez a maior virtude do filme. Afinal, a morte de Poe é sem dúvida tão misteriosa quanto a verdadeira essência de seus maiores trabalhos.

Agora 'nuff said. Sigam o blog e continuem a acompanhá-lo!


***

In a nutshell:

- O Corvo -
Thumbs Up: conexão entre enredo e fatos reais; conjunto de referências aos grandes trabalhos de Poe; clima noir quase victoriano; atuação sólida de John Cusack;
Thumbs Down: motivação do protagonista contrasta com sua personalidade; pouco conteúdo poético de verdadeira profundidade; enredo pouco inspirado e reviravoltas aceitáveis demais;    

Nenhum comentário:

Postar um comentário