segunda-feira, 15 de outubro de 2012

The Island of Dr. Moreau

Autor: H.G. Wells
Ano de publicação: 1896


"The study of Nature makes a man at last as remorseless as Nature"


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Yo! How's it going?

Para muitos, o nome Herbert George Wells é amplamente debatido como um dos pais do gênero que viemos a conhecer como ficção científica. Autor de livros como "A Máquina do Tempo" e "O Homem Invisível", Wells se estabeleceu no final do século XIX como um dos grandes nomes da literatura inglesa através de suas ideias avançadas e histórias cuja ficção futurística não relata apenas avanços da humanidade, mas sim um verdadeiro senso de regresso. Nesse sentido, "The Island of Dr. Moreau" (ou "A Ilha do Dr. Moreau")  é um de seus trabalhos de maior consagração, um curto e impactante livro sobre a supressão da animalização do ser humano e sua tendência a retornar a seus instintos mais primitivos. O romance foi adaptado às telonas diversas vezes, tendo sua última versão produzida em 1996 estrelando Marlon Brando e Val Kilmer. Pois bem, é justamente sobre tal livro que escrevo em minha postagem de hoje, então sit back and enjoy.

Plano de fundo: Edward Prendick é um cientista e biólogo que está a bordo da embarcação Lady Vain quando ela colide contra um navio abandonado. Escapando através de um bote salva-vidas, Prendick e mais dois passageiros encontram-se à deriva no mar por dias a fio, até o bote ser resgatado por uma misteriosa escuna logo depois de dois de seus companheiros terem seus destinos selados.

Encontrando companhia no misterioso passageiro chamado Montgomery, Prendick se recupera de seu estado febril enquanto a escuna se aproxima de seu local de destino. Obrigado a desembarcar com a carga da embarcação ou simplesmente deixá-la em alto-mar, Prendick é acolhido a contra-gosto por Montgomery, descendo até a ilha com todos os animais a bordo da escuna: animais esses que servem como cobaias para as vis experiências do velho Dr. Moreau, cujo cruel e insano legado está prestes a ser revelado.

Papum: "The Island of Dr. Moreau" é o terceiro livro que leio de H.G. Wells. Previamente, tive a oportunidade de ler tanto "The Time Machine" quanto "The Invisible Man", ambas obras que realmente marcaram tanto a história da literatura quanto meu acervo literário ainda crescente. Pois bem, "The Island of Dr. Moreau" não fica atrás de nenhuma delas, contendo em seu dinamismo e tensão narrativa conteúdo o suficiente para impressionar e servir como estudo comportamental humano por ainda mais anos a vir.

Desde o momento em que Edward Prendick desembarca na ilha do Dr. Moreau e são traçadas as primeiras descrições de seus habitantes (descrições essas detalhistas por parte de Wells), sabemos que não estamos diante homens normais. Seus maneirismos e trejeitos peculiares são escancarados, assim como seus portes físicos ameaçadores. Não é uma surpresa, então, que descubramos que não são homens que estão perante Prendick, mas sim animais vítimas de vivissecção nas mãos do Dr. Moreau, tornados humanos tanto física quanto mentalmente, ainda que apresentem uma série de desvios naturais. Como é de se esperar, consequentemente, é aí que a obra de Wells realmente brilha.


As criaturas montadas por Moreau tentam ser humanas e respeitam o código estabelecido como Lei de acordo com o que prega o louco cientista. Mesmo assim, a inevitável dominância do instinto sobre a razão acaba por surgir, como de fato é a tendência não só com os animais modificados de Moreau, mas com o ser humano em si. Como a própria personagem prega, "o que chamamos de educação moral é uma modificação artificial e perversão do instinto; beligerância é treinada a ser auto-sacrifício e sexualidade suprimida à emoção religiosa". Ser humano e evoluir é lutar contra os instintos animais que ainda mostramos justamente por sermos animais, e só assim os bichos de Moreau podem chegar próximo de um padrão de ser humano. O que vemos nos habitantes da ilha, então, é justamente isso: a Lei funciona como ensinamentos quase religiosos que bloqueiam instintos tentando oferecer algo etéreo, e quem não respeitá-la receberá dor como punição. Medo, então, é o que move essa pequena sociedade animalesca, cuja ruptura está a espreita com instintos em ebulição.

Levando em pauta ainda a discussão sobre dor, Moreau ressalta inúmeras vezes que trabalhando com a natureza, um torna-se tão inescrupuloso quanto ela, e na verdade dor não passa de uma sensação vivida por seres inteligentes que buscam seu próprio bem, eximindo tal sentimento de qualquer forma de vida irracional. Dor nada mais é do que um estímulo, uma maneira de nos avisarmos que algo não corre bem, mas se não temos meios de interpretá-lo sem inteligência, ela pode ser ignorada, levando-nos a crer que a dor animal não merece ser levada em conta. Tal argumento é mais absurdo hoje do que na época em que foi escrito (ainda mais com a ampla existência de grupos de direitos de animais atualmente), mas não deixa de ser interessante, ainda que sórdido e nefasto.

Por fim, merece destaque também a transformação que Prendick passa em sua estada na ilha. Assim como os meninos de "O Senhor das Moscas" de William Golding, Prendick lentamente acaba por ver seus instintos animais aflorarem quando ele é privado de sua comodidades, e como ele mesmo descreve, até mesmo seus olhos refletem um brilho um pouco mais selvagem agora, fruto de um contato profundo com a essência animal que ele, enquanto evoluído, jamais imaginara existir. O que resta, então, é o fato de que ela está sim em cada um de nós, e basta circunstâncias especiais para que ela seja ativada, tornando-nos um pouco mais próximos das bestas das quais muitas evidências apontam que viemos.

Agora 'nuff said. Sei que demorei mais dias entre a última postagem e esta, mas achei bom guardar um novo tópico para hoje, o Dia dos Professores! Sendo assim, aproveito o espaço  para parabenizar meus amigos e colegas de trabalho cuja importância na vida de cada um vai além de uma sala e dentro do conhecimento e da evolução pessoal, tentando motivar e fazer pensar aqueles que, um dia, terão o poder de mudar as coisas para melhor.


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In a nutshell:

- The Island of Dr. Moreau -
Thumbs Up: reflexões sobre instinto, religião e evolução altamente produtivos; clima tenso de perigo e violência que prende o leitor; descrições precisas e ótimo nível de vocabulário por parte de Wells; personagens sólidos que servem o propósito do enredo perfeitamente;
Thumbs Down: -----

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