quinta-feira, 25 de outubro de 2012

The Unwritten Vol. 1 - Tommy Taylor and the Bogus Identity

Autor: Mike Carey
Artista: Peter Gross


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Yo! How's it going?

Desde o início do blog Streampunk tenho aguardado ansiosamente as postagens relativas à minha série em quadrinhos favorita ainda em publicação: "The Unwritten", escrita e desenhada pelos ingleses Mike Carey e Peter Gross respectivamente. O que me impedia de abordá-la aqui no blog, contudo, era o fato de ter começado a leitura do título há quase dois anos, logo quando a coleção começou a ser publicada nos EUA. Assim sendo, esperava escrever sobre ela a partir do recém-lançado sexto volume do projeto, tal como fiz com "The Sandman" e "Fables". Recentemente, no entanto, ao saber que a Editora Panini publicará a série sob o nome "O Inescrito", mudei de opinião e resolvi discorrer sobre o título após realizar a releitura de seus seis arcos publicados até agora só para trazê-los com maior competência e exclusividade a vocês. Sit back and enjoy, porque "The Unwritten" é uma jornada simplesmente incrível dentro do mundo da literatura tanto fantástica quanto puramente clássica que vale a pena.

Plano de fundo: Não há ninguém no mundo que não conheça o nome Tommy Taylor. Protagonista de treze livros infanto-juvenis de sucesso estrondoso, há anos o bruxinho carrega uma verdadeira legião de fãs simplesmente apaixonados por suas aventuras mágicas escritas pelo autor Wilson Taylor. Isso não significa, porém, que seu legado seja unânime: para Thomas Taylor, filho de Wilson na qual seus livros se baseiam, a personagem sempre fora um estorvo, frequentemente impedindo-o de viver sua própria vida. Para piorar, Tom ainda carrega consigo a marca do súbito e inexplicável desaparecimento de Wilson, ódio que custa a cessar ao mesmo tempo em que o prende ao trabalho de seu pai.

Seguindo mais uma vez a monótona rotina de circuitos de eventos temáticos Tommy Taylor, o que espera Tom novamente são centenas de autógrafos, fotografias e boas doses de frustração. Isto é, até uma estranha estudante chamada Lizzie Hexam indagá-lo publicamente sobre sua verdadeira conexão com os Taylor. Subitamente abalado e polemizado, então, Tom embarca em uma viagem para saber mais sobre seu passado e sobre quem realmente é, iniciando assim uma jornada que pode ter revelações incríveis: seria ele o verdadeiro filho de Wilson ou a complexa materialização da personagem Tommy Taylor? O tempo urge, e nas sombras de seus questionamentos, figuras misteriosas começam a colocar em ação um fantástico plano que pode destruir completamente o rapaz e mostrar ao mundo o verdadeiro poder e uso real da ficção.

Papum: "The Unwritten" é uma verdadeira joia dos quadrinhos modernos. Dinâmica, criativa e inteligente, a série tem conquistado grande espaço na mídia em questão e é apontada por muitos como o melhor título em andamento na atualidade. Sou obrigado a concordar em gênero, número e grau com aqueles que pensam assim: as aventuras de Tom Taylor não só são intrigantes como refletem e misturam um mundo inteiro de referências literárias e as conecta sobre um mesmo tear de acontecimentos de modo incrivelmente sensível. Não são centenas de alusões indecifráveis que estão em cena (vide "A Liga Extraordinária"), mas sim um número bem menor que parece muito mais pontual e até mesmo coerente.

Primeiramente, como qualquer um pode ter notado, a popular personagem Tommy Taylor é baseada na famosa figura de Harry Potter tanto física quanto literariamente. Afinal, ele também estuda em uma escola de magia, é acompanhado por dois amigos (Peter Price, referência à Ron Weasly, e Sue Sparrow, a Hermione Granger da série) e frequentemente combate o cadavérico Conde Ambrosio (ou Lord Voldemort, se preferirem). Mike Carey é brilhante ao trazer segmentos dos "livros" de Tommy Taylor dentro de sua história, usando camadas narrativas dignas dos maiores autores de quadrinhos dos últimos anos (vide o arco "World's End" de "The Sandman"). A construção de tais personagens é forte tal qual o fez J.K. Rowling, contando ainda com estratégias precisas para tornar plausível o fato de Tommy Taylor ser tão famoso: há sonoridade nos nomes, cicatrizes mágicas, bichos de estimação fantásticos e até mesmo filosofia em cada um de seus volumes fictícios. Com um desenvolvimento tão bom, é até surpreendente que Tommy Taylor seja apenas secundário na trama, que segue o verdadeiro e adulto Thomas Taylor e o ódio que ele carrega da criação de seu pai, remetendo-nos instantaneamente à figura de Cristopher Robin, filho de A. A. Milne (autor dos livros Winnieh the Pooh) que por muitos anos criticou publicamente seu pai por ter usado sua figura como protagonista de seus livros e assim roubado sua infância. A mescla é perfeita e qualquer um que goste de literatura é instantaneamente prendido ao trabalho de Carey como poucas vezes vivenciei, dando início a uma montanha-russa de acontecimentos que ganham dimensões incríveis.

Seguindo o ponto de partida introdutório e tendo seu conflito iniciado ao questionar a identidade de seu protagonista, "The Unwritten" leva Tom atrás de pistas que podem solucionar seu passado. O que vemos então é mais um jogral de referências formidável que leva a personagem ao lugar onde seu desaparecido pai escrevera os livros Tommy Taylor: a mansão Villa Diodati, mesmo casa onde John Milton tivera a ideia para "O Paraíso Perdido" (argumento fictício) e Mary Shelley criara "Frankenstein" (argumento factual), obras de importância ímpar na história da humanidade. O que o espera ali, no entanto, são tanto revelações quanto perigos, já que a temível organização conhecida como Cabala está atrás dele. Tais motivos são revelados posteriormente, é claro, mas o que fica em "Tommy Taylor and the Bogus Identity" é a sensação de que algo realmente sólido fora construído, o que posso adiantar que realmente é afirmado no decorrer da série, fazendo sua leitura simplesmente obrigatória para qualquer fã de fantasia.

Ao término do último capítulo do arco, entra em cena um competente one-shot sobre a vida de Rudyard Kipling (autor de "Os Livros da Selva", protagonizado por Mogli) e seu envolvimento com a misteriosa cabala que séculos depois incomodaria Tom Taylor. Diversos autores renomados participam do ótimo enredo (em especial Oscar Wilde e Mark Twain), misturando acontecimentos factuais como a prisão de Wilde e morte dos filhos de Kipling com elementos conectados à terrível Cabala. O resultado é incrivelmente potente, e a conexão entre suas reviravoltas e Wilson Taylor é precisa e marcante, abrindo espaço para um incrível potencial narrativo que a série realmente não desperdiça em seus volumes posteriores. But more on that later.    

Em uma nota final, ficam também elogios não só a Mike Carey, mas à arte simples e precisa de Peter Gross. Sua escolha como desenhista é pontual, muito influenciada pelo fato de o artista ter trabalhado com a série "The Books of Magic", mas aqui seu trabalho é ainda melhor do que durante a série criada por Neil Gaiman. Quadros relativos aos livros de Tommy Taylor remetem verdadeiramente a livros, enquanto a narrativa é feita de modo mais convencional, ainda que abra espaço para discussões virtuais sobre os acontecimentos da trama através de janelas de internet e fóruns fictícios no meio do enredo, estratégia muito usada por Frank Miller e seus quadros televisivos em "O Cavaleiro das Trevas". Por tudo isso, então, não deixe de conferir "O Inescrito" quando seu lançamento acontecer, e prepare-se para uma jornada única dentro do mundo da metalinguagem e metaficção.


Agora 'nuff said. Começo aqui minhas postagens sobre "The Unwritten" que devem ocupar bastante o blog nos próximos dias, mas faço a releitura com muito prazer e consideração. Há 2 anos a série me conquistou e tem me impressionado com sua engenhosidade, então fico feliz de reler seus volumes para abordá-los aqui no blog. Continuem a seguir a página e até a próxima!

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In a nutshell:

- The Unwritten Vol. 1 - Tommy Taylor and the Bogus Identity -
Thumbs Up: enredo engenhoso repleto de referências inteligentes; alusões perfeitas na construção de seu elenco de personagens; camadas de histórias de Carey que impressionam; arte pontual de Peter Gross; criatividade em estilos narrativos que é sempre acentuada durante a série; personagens mágicos extremamente reais;
Thumbs Down: -----

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