Direção: Lynne Ramsay
Roteiro: Lynne Ramsay e Rory Stewart Kinnear
Elenco: Tilda Swinton, John C. Reilly, Ezra Miller
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Hora de mais uma pitada de cinema aqui no blog Streampunk. A película da vez é o drama "Precisamos Falar Sobre o Kevin", baseado na obra homônima da escritora e jornalista norte-americana Lionel Shriver.
Plano de fundo: Eva Khatchadourian (Tilda Swinton) é uma mulher taciturna e problemática marcada por feridas profundas deixadas por seu filho Kevin (Ezra Miller). Vivendo cada dia sem expectativa alguma, ela caminha entre sua dura realidade e as memórias familiares que tenta interpretar para entender o que de fato houve de errado com o menino, jornada essa que invariavelmente a fará entender o que também houve de errado com ela mesma e os motivos por trás da crueldade aparentemente incurável de Kevin.
Papum: "Precisamos Falar Sobre o Kevin" é um filme forte e intenso marcado por ótimas atuações de Tilda Swinton e Ezra Miller dentro de um enredo semi-linear repleto de flashbacks de fácil assimilação e interpretação, ainda que exija um pouco de atenção de seus espectadores. O resultado do trabalho realizado oferece um tom dramático que não deve agradar a todos, mas certamente é competente em seu propósito e deve assombrar a mente daqueles mais impressionáveis ou simplesmente puritanos por natureza. Having said that, é justamente na construção de seu elenco que a película brilha.
Eva é uma personagem complexa e depressiva cuja vida atual contrasta com seu passado energético e agitado de aventureira. Nesse ponto, Tilda faz um trabalho memorável ao realizar a transição da protagonista entre os períodos de sua vida e seus reais conflitos, desde sua juventude carefree à sua gravidez indesejada e o resultado final da crueldade de seu filho Kevin. O jeito peculiar como cuida de seu primogênito e o fardo que carrega no presente oferecem conteúdo e material o suficiente para Tilda justificar suas indicações a prêmios através de uma atuação incrível, funcionando perfeitamente na tentativa de tentar explicar ao espectador o que pode ter levado Kevin a realizar seu terrível ato niilista. Nessa nota, a estratégia da diretora escocesa Lynne Ramsay de sobrepor a cor vermelha em todos os tempos narrativos de sua protagonista é pontual e impactante, construindo no imaginário do espectador teorias sobre a violenta realização de Kevin até que ela seja de fato consumada no clímax do filme. A escolha de abertura com o festival espanhol La Tomatina, por exemplo, marca um forte início para a escolha em questão, oferecendo já de cara um ótimo insight sobre Eva que se estende por suas realidades pontuadas por objetos, luzes e roupas vermelhas onde e quando quer que esteja. Igualmente interessante é o jeito com que Ramsay filma suas cenas mais felizes em flashbacks trêmulos e desfocados que contrastam com a solidez e fixação de suas construções pessoais, estratégia eficaz para retratar como as memórias mais leves de Eva perdem a força diante dos vis acontecimentos desenrolados.

Por fim, outro elemento que chama a atenção em "Precisamos Falar Sobre o Kevin" é o distanciamento de Ramsay das cenas de violência mais explícita depois de arquitetar suas construções. Embora pessoalmente prefira violência psicológica à violência visualmente fortes, entendo que a escolha da diretora pode desagradar os espectadores sedentos de uma abordagem mais crua, mesmo que não estejam exatamente atrás de algo gory. Afinal, todas as menções e linguajar estão ali, levando o espectador a se perguntar se Ramsay optou por suas abordagens por preferências pessoais ou simplesmente por não saber como construir tais cenas de um modo justo para sua película. A dúvida é pertinente e legal de ser analisada, ainda que sua resposta possa vir apenas acompanhando o futuro dessa promissora diretora escocesa.
Agora 'nuff said. Continuem a acompanhar o blog e até a próxima!
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In a nutshell:
- Precisamos Falar Sobre o Kevin -
Thumbs Up: atuações de Tilda Swinton e Ezra Miller; diálogos dramáticos de grande acuidade; forte discussão sobre caráter formado e caráter intrínseco; forte jogo de cores de Ramsay;
Thumbs Down: falta de profundidade na personagem de John C. Reilly; distanciamento e corte de cenas agudas podem desagradar alguns espectadores;
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