domingo, 28 de outubro de 2012

Precisamos Falar Sobre o Kevin

Direção: Lynne Ramsay
Roteiro: Lynne Ramsay e Rory Stewart Kinnear
Elenco: Tilda Swinton, John C. Reilly, Ezra Miller

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Yo! How's it going?

Hora de mais uma pitada de cinema aqui no blog Streampunk. A película da vez é o drama "Precisamos Falar Sobre o Kevin", baseado na obra homônima da escritora e jornalista norte-americana Lionel Shriver.

Plano de fundo: Eva Khatchadourian (Tilda Swinton) é uma mulher taciturna e problemática marcada por feridas profundas deixadas por seu filho Kevin (Ezra Miller). Vivendo cada dia sem expectativa alguma, ela caminha entre sua dura realidade e as memórias familiares que tenta interpretar para entender o que de fato houve de errado com o menino, jornada essa que invariavelmente a fará entender o que também houve de errado com ela mesma e os motivos por trás da crueldade aparentemente incurável de Kevin.

Papum: "Precisamos Falar Sobre o Kevin" é um filme forte e intenso marcado por ótimas atuações de Tilda Swinton e Ezra Miller dentro de um enredo semi-linear repleto de flashbacks de fácil assimilação e interpretação, ainda que exija um pouco de atenção de seus espectadores. O resultado do trabalho realizado oferece um tom dramático que não deve agradar a todos, mas certamente é competente em seu propósito e deve assombrar a mente daqueles mais impressionáveis ou simplesmente puritanos por natureza. Having said that, é justamente na construção de seu elenco que a película brilha.

Eva é uma personagem complexa e depressiva cuja vida atual contrasta com seu passado energético e agitado de aventureira. Nesse ponto, Tilda faz um trabalho memorável ao realizar a transição da protagonista entre os períodos de sua vida e seus reais conflitos, desde sua juventude carefree à sua gravidez indesejada e o resultado final da crueldade de seu filho Kevin. O jeito peculiar como cuida de seu primogênito e o fardo que carrega no presente oferecem conteúdo e material o suficiente para Tilda justificar suas indicações a prêmios através de uma atuação incrível, funcionando perfeitamente na tentativa de tentar explicar ao espectador o que pode ter levado Kevin a realizar seu terrível ato niilista. Nessa nota, a estratégia da diretora escocesa Lynne Ramsay de sobrepor a cor vermelha em todos os tempos narrativos de sua protagonista é pontual e impactante, construindo no imaginário do espectador teorias sobre a violenta realização de Kevin até que ela seja de fato consumada no clímax do filme. A escolha de abertura com o festival espanhol La Tomatina, por exemplo, marca um forte início para a escolha em questão, oferecendo já de cara um ótimo insight sobre Eva que se estende por suas realidades pontuadas por objetos, luzes e roupas vermelhas onde e quando quer que esteja. Igualmente interessante é o jeito com que Ramsay filma suas cenas mais felizes em flashbacks trêmulos e desfocados que contrastam com a solidez e fixação de suas construções pessoais, estratégia eficaz para retratar como as memórias mais leves de Eva perdem a força diante dos vis acontecimentos desenrolados.

Ainda em atuações, tanto Ezra Miller (cujo trabalho em "As Vantagens de Ser Invisível" também é ótimo) quanto o pequeno Jasper Newell merecem elogios ao retratar o cruel e malicioso Kevin tanto em sua adolescência quanto infância, respectivamente. A leitura de suas atitudes é difícil por sua imprevisibilidade natural, abrindo espaço a ótimos diálogos com a personagem de Swinton que impressionam com seu tom desafiador e por vezes impessoal. As nuances de humor de Kevin e o jeito sádico como a criança prefere ser tratada oferecem uma profunda reflexão no processo de educação de um filho e um olhar curioso sobre a construção da maldade, aqui tratada não como algo imposto pela sociedade onde estamos inseridos, mas por falhas de caráter absolutamente intrínsecas em nosso ser. O que falta nesse cenário, então, é uma interação um pouco maior entre as personagens descritas e o marido de Eva e pai de Kevin, Franklin (John C. Reilly), cuja participação acaba limitada demais para uma figura paterna que se mostra curiosamente presente enquanto está em cena.

Por fim, outro elemento que chama a atenção em "Precisamos Falar Sobre o Kevin" é o distanciamento de Ramsay das cenas de violência mais explícita depois de arquitetar suas construções. Embora pessoalmente prefira violência psicológica à violência visualmente fortes, entendo que a escolha da diretora pode desagradar os espectadores sedentos de uma abordagem mais crua, mesmo que não estejam exatamente atrás de algo gory. Afinal, todas as menções e linguajar estão ali, levando o espectador a se perguntar se Ramsay optou por suas abordagens por preferências pessoais ou simplesmente por não saber como construir tais cenas de um modo justo para sua película. A dúvida é pertinente e legal de ser analisada, ainda que sua resposta possa vir apenas acompanhando o futuro dessa promissora diretora escocesa.

Agora 'nuff said. Continuem a acompanhar o blog e até a próxima!

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In a nutshell:

- Precisamos Falar Sobre o Kevin -
Thumbs Up: atuações de Tilda Swinton e Ezra Miller; diálogos dramáticos de grande acuidade; forte discussão sobre caráter formado e caráter intrínseco; forte jogo de cores de Ramsay;
Thumbs Down: falta de profundidade na personagem de John C. Reilly; distanciamento e corte de cenas agudas podem desagradar alguns espectadores; 

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